Caracterização e predição de secas: aplicação ao Alentejo

Luís Santos Pereira

Não existe uma definição de seca universalmente aceite nem critérios consensuais de classificação da sua severidade, situação verificada em Portugal na seca dos últimos anos. Porém, uma seca pode definir-se como um desequilíbrio natural e temporário na disponibilidade de água que consiste em precipitação persistentemente abaixo da média, com frequência, duração e severidade incertas, cuja ocorrência é imprevisível ou difícil de prever, e que resulta em redução da disponibilidade dos recursos hídricos com impactos nas actividades humanas e na capacidade de resposta dos ecossistemas. As secas são, pois, fenómenos aleatórios e devem ser abordadas como desastres. o que implica a gestão do seu risco antecipando a gestão da crise ou dos impactos.

A gestão de risco em secas compreende a identificação, monitorização, caracterização, predição e mitigação das secas visando o controlo dos seus impactos. A gestão do risco de secas requere melhor conhecimento do fenómeno de forma a permitir tanto a identificação das secas, através de índices baseados em dados climáticos, como a categorização da severidade da seca. A utilização de índices de seca permite a sua monitorização e a criação de informação para utentes e gestores da água e para informação ao público acerca da situação actual e mais provável nos meses seguintes. No presente, é já boa a informação sobre índices de secas, nomeadamente o SPI e o índice de Palmer, cuja adaptação às condições mediterrânicas está em curso. A modelação estocástica das transições de classes de severidade pelas cadeias de Markov e os modelos Loglineares permite a predição com passo de tempo de 1 a 3 meses, existindo perspectivas de melhorar tais predições recorrendo a teleconexões com a informação sobre circulação atmosférica. O essencial dos estudos referidos aplicados ao Alentejo ilustra os desenvolvimentos conseguidos.